Pedro Andrade

Pedro Andrade, apresentador de TV | por Heloisa Eterna | foto Aydin Arjomand | Fevereiro 2017

PEDRO ANDRADE, APRESENTADOR: FIDELIDADE CONJUGAL, DIVERSIDADE E AVIÃO

Pedro Andrade, a profissão de modelo está intrinsicamente ligada à beleza, ao vigor da juventude. Envelhecer é algo que lhe causava preocupação quando você ainda exercia a profissão?

Nem um pouco. Apesar de ter orgulho do trabalho que exerci quando era modelo, nunca vi esta carreira como minha meta. Não era alto, bonito ou talentoso o suficiente para atingir grande sucesso. Não sinto falta da minha infância e muito menos da adolescência… Minha fase mais feliz é sem sombra de dúvidas a adulta. Gosto de viver o momento, e não me preocupo com a estética ligada à juventude. A meu ver, uma pessoa pode continuar se gostando e se sentindo atraente apesar da idade.

Apesar de ser um homem bonito, você enfrentou dificuldades na carreira de modelo?

A realidade do modelo é mais cruel do que muita gente imagina. É uma porta na cara atrás da outra, rejeições consecutivas… Um desastre para o ego de qualquer um. Mas te prepara para momentos difíceis. Aprendi muito com os profissionais com quem trabalhei e criei amizades eternas. Não posso reclamar. Com relação a ser “um homem bonito”, não acredito em conceitos absolutos de beleza. Tenho nariz desproporcional, queixo anguloso, não olho para o espelho cheio de admiração. Sou crítico, porém muito bem resolvido. Gosto de mim como sou. Não foco no aspecto físico, prefiro me ver como um homem inteiro.

Você partiu para uma outra profissão, trabalhando como apresentador em algumas redes de TV nos EUA, e faz parte da mesa do programa Manhattan Connection. O que é preciso para se ter credibilidade diante das câmeras como jornalista?

É preciso honestidade. Fazer o dever de casa sempre. É preciso ter uma curiosidade genuína com relação ao tema que está sendo abordado. Não dá para ser acomodado ou preguiçoso. Talvez o mais importante seja a experiência. Nada substitui anos de trabalho e esforço. Se alguém te oferecer um atalho… Não aceite. Mais cedo ou mais tarde a conta chega.

“Amo o fato de ninguém nascer, crescer, se reproduzir e morrer em Nova York.”

O que mais admira no novaiorquino e o que mais despreza? E, como carioca, o que você abomina no way of life do Rio?

Amo o fato de ninguém nascer, crescer, se reproduzir e morrer em Nova York. Todo mundo vem de algum lugar, tem um sonho, uma história, vários planos. A cidade atrai gente interessante e gente interessada. Poucos lugares no mundo elevam as nossas expectativas de uma maneira geral como Nova York. Aqui o padeiro da esquina dá cursos de culinária em Paris; o DJ que toca no barzinho do outro lado da rua lota arenas em Tóquio; e o bartender que faz seu martini de cada dia é um dos maiores mixologistas do planeta. Isto é único e viciante. Não diria que abomino nada no estilo de vida carioca. Divido meu tempo entre Manhattan e a Gávea. Como sou muito pontual, às vezes sofro com o atraso alheio, mas nada que não seja contornável.

Nova York, onde você vive, é uma das cidades que mais respeitam a diversidade sexual. No Brasil, o tema ainda é tratado como tabu. O  que te chama mais a atenção quando observa esses dois paralelos?

Em Nova York, qualquer tipo de preconceito é mico. Não existe esta história de se preocupar com a vida alheia. Sempre uso o metrô como analogia para a diversidade desse lugar. Mulheres muçulmanas se sentam ao lado de drag queens francesas, que por sua vez conversam com ex-presidiários que se levantam para que uma senhora de 90 anos possa se sentar… Existe uma harmonia que seria impossível sem este respeito pela individualidade alheia. O mesmo acontece com a orientação sexual de cada um. Acredito que mesmo no Brasil alguém preconceituoso não é visto com qualquer normalidade. É uma grande bobagem tanto aqui quanto aí.

“Nosso mundo é lindo demais, porém problemático. Saber navegar todos estes conflitos […] com uma postura otimista é a parte mais difícil da equação.”

Na sua opinião, fidelidade conjugal é algo que se deve seguir à risca ou casais em geral podem ter uma relação mais duradoura quando se é menos conservador?

Acho que o que funciona para um casal não necessariamente funciona para outro. Não acredito que haja uma regra nesse quesito.

Viajar para outros países trazem sempre uma nova visão de mundo e da sociedade em que vivemos. “Pedro pelo mundo”, programa do GNT, mexeu com você em algum aspecto com relação ao ser humano e suas perspectivas?

O “Pedro pelo mundo” é um projeto que demanda uma entrega emocional ímpar. Cada passo que dou, seja em Siem Reap, Bagan, Tóquio ou Seattle, é uma oportunidade preciosa de mergulhar nessas culturas e tentar compreender nosso atual momento. Sinto uma responsabilidade absurda em contar as histórias dessas pessoas de uma forma digna e respeitosa. Tudo que vivo nessa jornada me afeta de várias formas. Quanto mais viajo, mais tenho a certeza do que não sei. Nosso mundo é lindo demais, porém problemático. Saber navegar todos estes conflitos (guerras, diferenças religiosas, conflitos, miséria, fome etc) com uma postura otimista é a parte mais difícil da equação.

Onde você escolheria viver o resto de sua vida, se tivesse apenas uma opção?

Vivo a vida que sempre sonhei. Moro no eixo Rio/Nova York, mas a realidade é que me sinto em casa mesmo dentro de um avião.

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