OMAR CATITO PERES: EMPRESÁRIO QUE REVITALIZA TEMPLOS DA BOEMIA CARIOCA SONHA COMANDAR O ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Catito, você é conhecido como um empresário que investe em ícones do Rio de Janeiro, como o restaurante La Fiorentina e o Bar Lagoa, lugares tradicionais da boemia. E costuma dizer que sofre da doença que todo carioca sofre atualmente: de indignação.
O Estado do Rio tem hoje uma incapacidade de cumprir com suas obrigações, hospitais em bom funcionamento, escola decentes e sobretudo segurança que não existe mais. Nós estamos vivendo uma guerra civil. Você soma tudo isso e é impregnado pelo vírus da indignação. E por que chegamos a esse estágio? Porque a política fez isso. São verdadeiras quadrilhas organizadas que assaltaram o Rio de Janeiro e deixaram ele nessa condição.
Você já foi secretário estadual da Indústria e Comércio de Minas Gerais durante o governo Itamar Franco. Se candidatar ao governo do Rio é uma possibilidade?
Sou apaixonado pelo Rio. Apesar de ter nascido em Minas Gerais, vivo aqui há 55 anos. Ser governador é um desafio enorme. Escrevi um artigo num tom de brincadeira séria, sabendo do meu tamanho, das minhas possibilidades e sonhos. Disse que seria candidato e houve uma repercussão enorme no meu Facebook. Comecei a gostar da ideia, não de ser governador mas de fomentar a brincadeira. Sou brizolista. O Brizola (Leonel Brizola, ex-governador) mudou a história dessa cidade investindo em educação. O Darcy Ribeiro (antropólogo e vice de Brizola — criador dos Centros Integrados de Ensino Público, os Cieps) já dizia que se não investíssemos em educação, contruiriamos presídios no lugar de escolas. Se o PDT não tiver um nome viável, o meu já está lá..
“Não vejo outra saída a não ser a sociedade civil declarar guerra aos traficantes.”
E qual é o seu projeto de governo?
Ele se alicerça em educação em tempo integral, segurança e orçamento equilibrado.
Um dos pontos nevrálgicos do Rio é a violência. Como acabar com ela?
Não vejo outra saída a não ser a sociedade civil declarar guerra aos traficantes, que agem por demanda, ou seja, na Zona Sul tem alguém consumindo cocaína, LSD… Considera-se que hoje existam 10 mil bandidos fortemente armados ligados ao tráfico. Nós estamos perdendo essa guerra e a solução é chamar as Forças Armadas. Não sou especialista em segurança, falo isso como cidadão. Estamos vivendo a perda total do Estado como repressor. E a polícia não dá conta, ela mesma muitas vezes envolvida na marginalidade.
A questão da violência não passa pela legalização das drogas?
Sou totalmente favorável. É uma discussão na qual a humanidade ainda não chegou a um consenso, mas particularmente eu colocaria cocaína e maconha para se vender em farmácias com ordem médica. Porque se a repressão resolvesse não haveria consumo nos Estados Unidos, na Europa e em nenhum lugar do mundo. Nem os fornecedores teriam os bilhões de dólares acumulados. Sou a favor da legalização, mas é um debate que tem que ser levado para a sociedade. Sobretudo maconha. Como é que você vai reprimir o consumidor de maconha hoje no mundo? Não existe essa possibilidade. Os Estados Unidos já estão legalizando, o Uruguai já legalizou. É uma ficção achar que reprimir o produtor e o consumidor de maconha vai acabar com ambos. Não vai.
“O que mora na alma não morre.”
Em sociedade com o empresário Ricardo Amaral, num investimento de 8 milhões de reais, você trouxe de volta a lendária boate Hippopotamus, um clássico da noite carioca entre os anos 1970 e 90. A vida é uma festa?
Acho que a vida deve ser festejada, ela não é uma festa. Sempre fiz meus aniversários de 40, 50, 60. Gosto de festejar porque não conseguiria viver sem meus amigos. A vida deve ser festejada entendendo todos os percalços que a gente enfrenta durante as nossas trajetórias, perdas e dificuldades. Mas também tem momentos de alegria. O ser humano busca a alegria. Os problemas que nós humanos causamos é que impedem que sejamos absolutamente felizes. As agressões, as guerras, os psicopatas do mundo que nos trazem tantos transtornos. Mas tem momentos de alegria, a festa é uma delas. O Hippopotamus e outros negócios em que estou investindo são locais históricos do Rio, ícones da cidade (o empresário é dono também das panificadoras Guerin). Sempre digo: “O que mora na alma não morre”.
O restaurante Piantella, ponto de encontro de políticos em Brasília, também foi comprado por você. O poder te seduz?
O poder seduz a todo ser humano. De uma forma ou de outra. O artista, por exemplo, o que ele busca? O poder pela arte. Mas não é o poder de ser reconhecido, é o poder de se expressar, o poder de fazer. O ser humano exerce o poder de todas as formas. Querer ser ou buscar aquilo que você gosta é uma forma de exercer o poder. Fui secretário de Estado no governo do Itamar Franco, mas não gostei. Pelo menos no que vivi, acho o Estado inoperante. A gente paga muito, mas a sociedade recebe muito pouco de volta. Mas o Estado é fundamental, não vai deixar de existir. O Estado anárquico ainda vai demorar alguns milênios para nós atingirmos.
“Ser governador é um ato de muita coragem.”
Em geral, os políticos se aliam a Deus e ao Diabo para ter poder. Na questão da religião, se aliam a algumas vertentes mesmo não sendo aquela a sua crença.
Isso é muito triste. Sou agnóstico. Jesus foi uma grande figura que passou por esse planeta, mas não sou católico, sou cristão. Acho que as igrejas evangélicas exploram a fé, não levam a fé. Não posso aprovar o tipo de prática comercial que eles fazem da fé. Mas não podemos negar que 20 por cento da população brasileira é evangélica, que frequenta templos e que a rigor estão de acordo em receber água santa para fazer milagre e a vassoura que vai varrer o Diabo. Tenho que respeitar essas pessoas, mas não concordo. Mas ter que se aliar a eles é quase uma obrigação, porque o sistema eleitoral e político brasileiro fazem com que as assembleias estaduais e o próprio Congresso tenham um poder enorme sobre o Executivo. E como não existem partidos políticos com programas consistentes, você negocia diretamente com pessoas ou com grupos que têm interesses próprios. Não se negocia ideal e orçamento. Um país que tem mais de 30 partidos recebendo dinheiro público, não chega muito longe. Acho que podem criar 300 mil partidos, tudo bem, desde que não recebam dinheiro público. Por que eu tenho que dar dinheiro para partido político? Mas essa é a realidade. Existem bancadas de todo tipo, todas as crenças e matizes ideológicos. Com o atual sistema político existente você não tem como fugir desse tipo de negociação.
A figura do político anda muito comprometida com malfeitos.
Sou ficha limpa, pode revirar minha vida de cabeça para baixo que não sai nada de corrupção. Sou empresário com 30 anos de estrada. Todo empresário tem seus problemas, atravessa crises. E nós estamos vivendo uma guerra civil no Estado do Rio. Ser governador é um ato de muita coragem. Mas o que me dá ainda mais vontade de ser são os problemas tão graves, para tentar resolvê-los. Minha vida sempre foi de desafios, de viabilizar coisas que a rigor são inviáveis. Por exemplo, na indústria naval do Rio, comprei o Estaleiro Mauá em 1997. Ele tinha 50 funcionários, deixei mais de 4 mil com carteira assinada.
“Do ponto de vista da arte nada deve ser proibido.”
Se você tivesse que entrar na polêmica que considera o nu em museus pedofilia ou zoofilia, como se posicionaria?
A liberdade é intocável. Agora, existe uma censura prévia emocional de quem vai ver arte. Não acho que pornografia, sensualidade e temas eróticos sirvam para crianças. Mas quem é que vai julgar isso? É o Estado? Não é. O Estado não pode dizer sim ou não. O Estado vai dizer que é proibido para menores de 12, 16, 18 anos. Para mim, se o cara está nu num museu não me diz nada. Se cederam o espaço para ele, é legal. Agora, não levaria meus netos para verem. Não acrescentaria nada para eles. O debate mais profundo é: o que é liberdade. É um grande equívoco proibir uma exposição. Do ponto de vista da arte nada deve ser proibido. Até porque você tem o direito de gostar ou não. Põe lá um cartaz: “Hoje exposição erótica”.
Tempo é dinheiro?
Hoje, de uma forma quase que doentia. A pressão da informação te leva a perder muito tempo para fazer as coisas. Conheço gente que não deixa o tempo ser dinheiro, que se colocou um limite. Eu poderia ter feito isso, mas faz parte do meu caráter, da minha história ficar permanentemente fazendo coisas. Estou sempre correndo atrás do dinheiro.