Maria Camargo

Maria Camargo, roteirista, e Espirro | por Heloisa Eterna | foto e video Rafael Aguiar | Março 2018

MARIA CAMARGO: ROTEIRISTA ESCREVE “ASSÉDIO”, CONTA SOBRE A PROXIMIDADE COM A LOUCURA E REVELA QUAIS SÉRIES GOSTARIA DE  TER ESCRITO

Maria Camargo, quais são os limites éticos ao se contar a história de uma pessoa real e ainda viva? Você está roteirizando o caso do médico Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos anos de prisão por ter estuprado mais de 30 pacientes. Como trata o tema?

Tento tratar com a delicadeza que isso tem que ter. “Assédio” (próxima série da TV Globo) é uma obra ficcional. Conta a história de uma rede de mulheres que se forma para denunciar abusos sexuais cometidos por um médico bem-sucedido e respeitado. No caso do Abdelmassih, que inspirou a história, a gente tem um personagem que é condenado pela Justiça. Isso é um ponto de partida particular. No caso de um documentário, questões éticas têm certas particularidades; na ficção, outras. Questões éticas existem sempre. Quando participei do roteiro do “Nise” (o filme “Nise: O Coração da Loucura”, sobre a psiquiatra Nise da Silveira),  tinhamos uma personagem real, com muitos admiradores devotos. O filme tratava de uma mulher que pode ser controversa, ter seus pontos fracos, mas que era sensacional. Com o Abdelmassih, é o oposto. Esse homem fez monstruosidades. E a razão de contar essa história é mostrar tudo de monstruoso que ela tem, porque a gente não quer que ela se repita. É muito importante quebrar o silêncio.

Por que optar em ficcionalizar a história do Abdelmassih?

Como o Kiarostami (o diretor iraniano Abbas Kiarostami, de “Gosto de Cereja”) dizia, é sempre uma mentira o que a gente está contando, seja documentário ou ficção. Porque é uma construção. É mentira, não é a vida que está ali. No caso da ficção, isso se intensifica. Entre um fato público e outro, tem a vida íntima, privada. E aí? Tenho que, necessariamente, inventar. Roger Sadala é um personagem ficcional inspirado no Abdelmassih. É importante ressaltar que é uma história de ficção, inspirada na dele, claro, não se trata de negar isso. Porque a importância dela vem do fato de que aconteceu, de que essas mulheres que foram abusadas, estupradas e assediadas, enfim, toda variação de horrores, conseguiram fazer uma virada. Elas ajudaram a capturar esse homem. Botar atrás das grades contra todas as perspectivas, porque ele poderia ter ficado impune até hoje.

“Se não tivesse havido essa virada das vítimas, essa história seria só a história de um homem perverso.”

As vítimas também são ficcionais?

Sim, ainda que seja importante assumir que essa história é inspirada na história real do médico. Isso realmente aconteceu, esse homem realmente existiu e a história real que nos inspirou é a do Roger Abdelmassih e de suas vítimas. O Roger Sadala é inspirado no Abdelmassih. Mas ele é o nosso Roger. A família também é fictícia, tem outro nome. Todos os personagens, inclusive as vítimas, são construções ficcionais, sendo que algumas são mais próximas da realidade, outras menos. Nos baseamos nos depoimentos de diversas mulheres, muitas vítimas de Roger Abdelmassih, mas construímos histórias simbólicas. E aí entra de novo a questão ética: não inventei uma coisa que ninguém diz que ele fez, um crime que ele não cometeu. Trato dos crimes pelos quais ele foi condenado. A cada passo você tem que ficar se perguntando: faço ou não faço dessa forma? Ao escrever uma ficção, tem uma coisa que é ganhar liberdade, mas ao mesmo tempo a história precisa estar ancorada na realidade do que aconteceu. A força dela é essa. Não estou negando essa comunicação com a realidade.

E por que essa história real perdurou sem que viesse à tona imediatamente?

Por causa de uma permissividade e de um silêncio sinistro que a gente vê todos os dias acontecer e continuamos vendo. A violência contra a mulher. Essa história só existe porque o mundo é assim. Quero dizer, sim, que houve um pacto silencioso, que permitiu que esse cara ficasse cometendo esses crimes durante tanto tempo. Que houve alguma mudança que fez com que essas mulheres passassem a falar e a serem ouvidas a partir de um certo momento. O mundo não mudou de repente, mas há um sinal de que existe a semente de uma mudança. E é justamente isso que me interessou. Se não tivesse havido essa virada das vítimas, essa história seria só a história de um homem perverso. Poderia ser simbólica por representar o mundo em que vivemos, uma sociedade machista, etc e tal, mas acredito que sua força maior está nessa virada ancorada diretamente na realidade.

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Como foi o processo de pesquisa?

Eu e minha equipe lemos todos os depoimentos e documentos do caso que estiveram ao nosso alcance. Fomos muito cuidadosos. Construímos a história ficcional a partir de uma pesquisa muito aprofundada. Primeiro, no livro do jornalista Vicente Vilardaga (“A Clínica — A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”), que foi o ponto de partida. Fomos às fontes originais citadas pelo autor, depois buscamos outras. As vítimas são heroínas, mas não teríamos como retratar essas mulheres, porque são muitas histórias e mesmo entre elas há divergências. E aí volto ao ponto: estamos fazendo uma ficção. Colocando na tela uma linguagem, uma invenção criada a partir daquilo que apreendemos, sem deixar de levar em conta limites delicados e importantes. A gente achou melhor ter um distanciamento, mas um distanciamento responsável. Nossas personagens não existem na vida real, mas nasceram dessas experiências da vida real.

“Já fui atacada por um namoradinho. Todas as mulheres têm histórias para contar. […] Não é só uma questão sexual. Assédio é, acima de tudo, uma questão de poder.”

Algum papel feminino vai ganhar mais destaque?

Temos várias protagonistas femininas. A primeira vítima que aparece tem um arco mais longo, está do primeiro ao último capítulo, ganha uma força diferente. É a Stela, interpretada pela Adriana Esteves. As outras vão se somando, porque é uma história de multiprotagonismo. Até porque nenhuma daquelas mulheres fez nada sozinha. A força foi, sobretudo, coletiva. Uma foi descobrindo a outra, e a questão das redes sociais e da internet tornou isso possível. Enquanto era uma só falando, ela não conseguia ser ouvida. Todo mundo ignorava, o silêncio prevalecia. Mas quando você soma uma, duas, três, quatro, cinco, peraí…dez, 50 mulheres, não pode ser mentira. Porque sempre a questão do crime sexual é: “Não temos prova. Cadê a prova? É nisso que insiste o Abdelmassih, que até hoje se diz injustiçado, que foi condenado sem provas. Mas relatos podem ter essa força, ter valor de prova. “Assédio” também é sobre a força da palavra, sobre a quebra do silêncio.

A propósito, assédio é um dos trending topics do momento. Você já sofreu? O que acha da avalanche de denúncias que está acontecendo principalmente no showbiz?

Acho muito difícil encontrar uma mulher que não tenha sido assediada — no ambiente de trabalho, inclusive. Já fui assediada em várias situações e de diversas formas. Desde o segurança de uma farmácia, quando eu era muito pequena, que foi uma coisa muito violenta. Já fui atacada por um namoradinho. Todas as mulheres têm histórias para contar, algumas mais violentas, outras menos. Tem gente que diz que está havendo exagero nesse silêncio que está sendo quebrado. Pode até ser, como em tudo que começa a aparecer com muita força. Mas paciência, a gente encontra equilíbrio, só não dá para continuar como estava. Tem que vir à tona e haver denúncias. Vão ter que pensar várias vezes antes de assediar uma mulher, seja onde for. E no espaço de trabalho se usa do poder. Não é só uma questão sexual. Assédio é, acima de tudo, uma questão de poder.

“Precisava conhecer esse livro como minha própria vida.”

(Para fazer o roteiro de “Dois Irmãos”, série que antecedeu “Assédio”, Maria leu o livro 25 vezes)

O roteiro da série “Dois Irmãos” nasceu a partir da organização de fichas, onde eram destacados os marcos dramáticos da obra de Milton Hatoum. Sempre utiliza esse método?

Sempre faço dessa maneira. Meu trabalho é contar uma história para o audiovisual, que pode chegar em livro, ser algo que alguém tenha me contado, ser a vida de alguém ou uma ideia original minha. Independentemente da forma que ela chega até a mim, há um processo de descobrir como melhor contá-la audiovisualmente. Tenho que me apropriar dela. No caso de “Dois Irmãos” foi complicado, porque que já era uma história maravilhosa. Por que, então, eu tinha que fazer alguma coisa com ela? Foi um processo longo até chegar à série. Precisava conhecer esse livro como minha própria vida. Decupei em fichas. Depois, as coloquei numa linha do tempo para entender como seria aquela história se fosse contada cronologicamente — o que ela não é. Foi uma dificuldade a mais, mas essa era a razão de ser da obra do Milton, que fala sobre memória e da redenção de um personagem através da narração. E memória não acontece em ordem cronológica. De cara, percebi que não poderia abrir mão de contar a história na TV também fora da ordem cronológica.

Eliane Giardini, a Zana de "Dois Irmãos"| foto Divulgação TV Globo

Eliane Giardini, em cena como a Zana de “Dois Irmãos”| foto Divulgação TV Globo

Existe o conflito sobre frustrar o espectador que antes foi leitor, ou o próprio autor, não?

Já estou melhor em relação a isso. A gente sempre vai frustrar o autor, o leitor, o espectador. Parto do princípio que posso frustrar todo mundo. Esse controle não dá para ter. A única pessoa que não posso frustrar é a mim mesma. Ao apresentar o trabalho para qualquer pessoa, tenho  que ter convicção de que fiz da melhor forma. Pode não ser o jeito perfeito. Claro, fico sempre com a expectativa de que vai dar certo. Dois Irmãos”, que é um clássico contemporâneo, provoca essa agonia. Também fiquei muito amiga do Milton, não queria frustrá-lo. Queria que gostasse muito. Várias vezes pedi a ele para fazer observações, e o Milton fazia todas muito pontuais, coisas de quem viveu lá (em Manaus, onde se passa a história). Acredito que a ele, nem eu nem o Luiz Fernando (o diretor da série Luiz Fernando Carvalho) frustramos. Mas essa não pode ser uma condição. Não se pode partir para fazer algo para o espectador gostar, muito menos o autor do livro. Primeiro, tem que ser a história que quero contar, do contrário não vou contar direito. Se for o mais fiel às minhas emoções, tenho mais chances de me comunicar com o espectador e com o leitor do livro.

“Se eu não estiver com a cabeça boa, todo o resto vai descarrilhar.”

(Sobre fazer terapia e filhos)

A preferência da mãe por um dos filhos, mesmo que velada, pode acirrar o ódio entre irmãos. Você é mãe de quatro filhos, como administra isso dentro de casa?  *Em “Dois Irmãos”, Omar e Yaqub, gêmeos idênticos que nunca se pareceram aos olhos da mãe, Zana,  foram criados por ela com distinção, cultivando o ressentimento, a inveja e o ódio.

Uma vez que você tem filhos, não dá para evitar conflito o tempo todo. Vi muitas famílias dando errado, a minha própria não era um exemplo das coisas funcionando bem. Quando quis ter filhos, era muito jovem, tinha loucura por isso, colecionava a revista “Pais e Filhos”. Mas sempre soube que era um desafio muito grande. Ao ler “Dois Irmãos” já tinha quatro, de casamentos diferentes, então há particularidades. Sempre fiz análise para não deixar as coisas escaparem. Se eu não estiver com a cabeça boa, todo o resto vai descarrilhar. Mesmo assim, tem sempre chances de descarrilhar (risos). Com isso tento não colocar todas as expectativas do mundo em cima dos meus filhos. A questão do preferido, como no caso da personagem Zana, nunca houve. Existem relações diferentes com um filho e com outro. Alguns são mais desafiadores. Num primeiro momento, quando li o livro, fiquei com muita raiva da Zana. Pensava: “Como essa mulher prefere esse filho dessa forma, rejeita esse outro, não vê o que está fazendo?!”. Ao mesmo tempo, a gente vai vendo que ela é a primeira a se dar mal, sofre muito. Vê o sonho genuíno, de ter uma família feliz, desabar. Sua história é uma estrutura trágica, me comoveu demais. É muito difícil gerenciar uma família, lidar com as próprias emoções e as dos filhos. Quero que todo mundo me ame, mas nem sempre estão me amando. Tem horas que eles estão me odiando, e às vezes com razão. Você tem que lidar com isso e com o fato de que às vezes é preciso ser odiável para exercer ali um certo papel.

Maria Camargo com Amora Mautner, diretora da série | foto Divulgação

Maria Camargo com Amora Mautner, diretora de “Assédio” | foto Divulgação

Acredita que foi o seu pulo do gato na TV Globo? Gera expectativa de querer que um próximo trabalho faça tanto sucesso quanto o anterior? 

“Dois Irmãos” foi um marco para mim. Foi a primeira vez que fiz algo de maior alcance na televisão. Um projeto pessoal que continuou com o Luiz Fernando, virou nosso. Havia escrito várias coisas na Globo, sempre encomendas. Fora da TV fiz dois curtas, um deles sobre o meu pai (“Se Meu Pai Fosse de Pedra”, sobre o escultor Sergio Camargo). Nesse meio tempo fui amadurecendo como roteirista (A roteirista sugeriu em 2003 que “Dois Irmãos” fosse adaptado para a TV, o que aconteceu somente 14 anos depois). No fim das contas, aconteceu do jeito certo. Se tivesse acontecido mais cedo, talvez estivesse imatura para o tamanho e a importância de contar essa história. Como é importante contar a história de Abdelmassih, que também apresentei à Globo. “Assédio” é a continuação do meu percurso de autora, de apontar histórias que considero relevantes. E fui sequestrada pela história. Isso é que é importante. Se vai fazer mais ou menos sucesso… Não tenho dúvidas de que será polêmica. Acho difícil falar a respeito, porque é um vespeiro. Mas agora estou focada para que fique legal. Minha relação com a Amora Mautner (diretora da série) é muito boa, temos uma visão estética do mundo parecida.

O tempo é um personagem importante em “Dois Irmãos”, e também em nossas vidas. Cada vez mais achamos que temos menos. Como você administra o seu tempo?

É a coisa mais difícil de administrar, muito mais do que a frustração, inclusive (risos). “Em Dois Irmãos”, o tempo é a razão de ser. É uma história sobre o tempo. O processo de fazer a série também foi uma história sobre o tempo, lidar com o tempo, com as expectativas, a impaciência, a ansiedade. Um aprendizado e tanto. “Assédio” aconteceu muito rápido, o que por um lado foi maravilhoso, mas que teve seus “poréns” por acontecer tão rápido. Há coisas que você tem que fazer muito rápido, mas que seria melhor ter mais tempo. Aprendi a valorizar demoras, certas delongas, sou bastante ansiosa. No cotidiano é difícil. Trabalhar em casa já é uma questão. Quando meus filhos eram mais novos, complicava mais. Fui aprendendo. Hoje em dia trabalho no cabeleireiro pintando o cabelo, em restaurante, café, aeroporto, na sala de espera do dentista. Em qualquer lugar, abstraio completamente.

“A conquista da sanidade é diária. Meu medo de ficar maluca não foi embora totalmente.”

 A propósito do filme “Nise”, acha que a loucura pode ser despertada na cabeça de alguém assim, digamos, num estalar de dedos?  Já sentiu algo perto disso? 

Tenho caso de doença mental na família. Foi o que me ligou muito à história da doutora Nise, quando o Roberto Berliner (diretor) me chamou para escrever o filme, que teve outros roteiristas além de mim. No roteiro há muitas coisas que têm a ver com o que vivi. Tive um irmão esquizofrênico, tenho uma irmã autista. Convivi com isso minha vida inteira. Tinha muito medo de ficar louca quando criança, na adolescência era uma coisa muito presente. Não enlouqueci aos 16 anos, acalmou um pouco isso (risos). Mas sempre foi uma questão, uma coisa sobre a qual me emociono, me mexe muito fundo. Trabalhar no roteiro do “Nise” foi uma forma enviesada de lidar com o tema. Dramaturgia faz isso, lidar com as histórias e as dores por meio de um personagem. Claro, tenho meu processo de análise onde lido com minhas dores e medos específicos. Mas com os personagens você vai por outro caminho, de elaboração. Esse tema é muito caro para mim. Acho que todos nós estamos sempre no limiar de perder o equilíbrio. Agradeço quando percebo que estou sã, conseguindo enxergar as coisas que estou fazendo, tentando lidar com o outro. Saber o que é o outro, o que sou eu. Ter clareza. Não é uma coisa que está dada, não. É algo que, quando conseguimos, é uma conquista, e temos que agradecer, porque é fácil sair do prumo. A vida é difícil, são muitas demandas. Nossa cabeça tem complexidades, temos dores, muito sofrimento. Todo mundo,? Nenhuma história de vida é fácil. A conquista da sanidade é diária. Meu medo de ficar maluca não foi embora totalmente.

Você disse que o documentário que roteirizou sobre Hector Babenco, com direção de Bárbara Paz, companheira do cineasta, é, sobretudo, um filme sobre a finitude. Como vê a sua própria finitude?

A gente acorda e dorme com isso. Minha filha tem pânico, não gosta nem de ouvir falar. Ela tem a fantasia de que vão inventar alguma coisa para que a gente não morra mais e, claro, antes dela morrer (risos). Se a gente não tiver essa noção da finitude, como viver?  Acho muito difícil lidar com a finitude, mas com a infinitude seria pior (risos). É mais uma frustração. Uma hora não vou estar mais aqui, meus filhos vão ficar; será que vou conhecer meus netos? Lido com isso escrevendo. Adoro histórias trágicas, tendo a escolher histórias pesadas para contar, que muitas vezes falam da finitude.

De todas as séries que você já assistiu, qual gostaria de ter escrito o roteiro?

Várias. “BeTipul” (série israelense que deu origem a vários remakes, inclusive no Brasil, como “Sessão de Terapia”).  Vi “The Crown” (roteiro do inglês Peter Morgan), que tem um quê de novela. Do ponto de vista de formato não teria escrito esta série, mas as cenas são tão bem escritas. Gosto muito de “Damages”, a primeira temporada é incrível. Gostei de The Night Of” (roteiro dos norte-americanos Richard Price e Steven Zaillian), melhor o começo do que o fim. Roteiristas, autores, migraram para as séries. Eles têm o papel de torná-las coerentes do começo ao fim. Gostaria de ter escrito “Família Soprano” (criada pelo norte-americano David Chase).

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E o que você considera incrível no processo de criação dessas séries?

As cabeças desses roteiristas, que realmente conseguem ter um controle sobre a história que eles estão contando. Mesmo dentro desse processo tão longo, tão complexo, onde entram o diretor, o produtor, etc e tal, que isso se dê de uma forma onde a história continua sendo soberana. Sem um bom diretor aquilo vai por água abaixo, sem um bom elenco tudo se acaba. Não adianta ter escrito a coisa mais maravilhosa do mundo e ser mal dirigido, ter um péssimo ator. Mas a história continua sendo soberana. Porque sem isso não dá para nada. Quando vejo qualquer série e sinto a importância de que aquilo se manteve coerente e forte do começo ao fim, que enxergo a história ter esse arco, sempre me dá vontade de ter escrito. Não dá tempo de escrever tudo. Faz parte das frustrações. Aí gente tenta fazer uma dentro do que consegue, dos limites que existem, tentando colocar o desejo em movimento.

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