JACQUES DEQUEKER: UM FOTÓGRAFO ENTRE TUBARÕES E CELEBRIDADES
Jacques Dequeker, seu primeiro trabalho, há dez anos, foi de cara para a edição brasileira da revista Vogue. Acredita em sorte?
Acredito. E acho que tenho muita sorte não só no trabalho, mas principalmente na vida pessoal. Esse primeiro trabalho para a Vogue foi sorte mesmo. A ideia inicial era fazer apenas uma matéria, e acabei fazendo a revista toda. Por outro lado, posso dizer que não é só sorte, porque, para que o cliente continue por perto, precisamos fazer nossa parte e ralar muito. Sorte não é o bastante. Aparecer, às vezes, é o primeiro passo. Mas se manter no mercado é difícil e exige dedicação.
Por que escolheu fotografar moda?
Sempre gostei. Antes disso, eu lavava barcos em uma marina em San Diego. Quando voltei ao Brasil, fui trabalhar como assistente do Pedro Flores, grande fotógrafo gaúcho, e minha paixão pelas mulheres e este mundo da moda foram decisivos. Minha avó trabalhou com Balenciaga, e minha mãe teve contato também com este mundo da moda. Pode ser genética fashion!
Todo mundo tem um ângulo melhor para foto?
Tem. Pode ver que hoje, com as selfies, todos conhecem os seus, facilita o meu trabalho.
Você fotografa as mulheres mais bonitas do mundo. Alguém já te marcou muito em um ensaio/editorial? Quem seria a personificação da beleza?
Sem dúvida, o resultado final com a Gisele Bündchen nem entra nesta questão, ela é de outro mundo. Mas, das pessoas reais, acho que a Isabeli Fontana e a Crista Cober são duas das mulheres mais bonitas que já fotografei.
“Aprendi a lidar com egos, e sempre dançamos conforme a música, dentro do limite”
O que acha da cultura dos paparazzi?
Acho um trabalho interessante, já tive várias experiências com eles fotografando celebridades, principalmente em Los Angeles. O mais inteligente é jogar junto, sempre tive bons resultados pensando assim.
Celebridades do mundo inteiro já foram fotografadas por você. Acha difícil ter que lidar com egos? Já passou por mal-estar com famosos?
Nunca tive problemas com celebridades ou modelos. O mais difícil é lidar com egos, o resto é muito fácil. Aprendi a lidar com egos, e sempre dançamos conforme a música, dentro do limite.
Qual a ideia mais maluca e o orçamento mais grandioso para um editorial que você já teve?
Nunca tive um orçamento grandioso para um editorial, sempre aprendi a transformar orçamentos pequenos em resultados grandiosos. Acho que o mais maluco foi fazer uma capa debaixo d’água com a modelo Emanuela de Paula, e descobrir que ela não sabia mergulhar nem ficar submersa. Treinamos por 30 minutos este primeiro passo, depois rolou… E sem bolhas! É uma das capas que mais gosto.
Você também gosta de fotografar tubarões. Já passou por algum sufoco?
Nunca. Sempre respeitei o espaço deles e nunca quis tocá-los. É um mundo mágico, parece que entro em um filme, não tem como descrever. Foram mais de 100 mergulhos com eles e estou preparando uma exposição para mostrar um pouco disso.
“Hoje todos são fotógrafos e entendem um pouco de enquadramento.”
Muitos veículos online passaram a investir em fotos menos produzidas, para gerar conteúdo mais rápido e menos oneroso. O que acha disso?
A mídia digital está com força total. Em Nova York, onde montei minha nova base, todos só falam disso. Tenho agora um espaço online com a Vogue Brasil. Isto vai ser tendência mundial. Mas, para se fazer algo menos produzido e em menos tempo, é preciso muita experiência. Tudo é imediato e não tem o tempo do material impresso. Mas os fotógrafos brasileiros levam vantagem, porque sempre fomos acostumados a esse imediatismo.
E como ficam os direitos autorais em tempos de internet?
É um problema sério. Uma vez vi uma foto minha estampando o anúncio de uma nova loja da Bloomingdale’s em Nova York. Simplesmente pegaram da internet e fizeram uma arte em cima.
Com as redes sociais, principalmente o Instagram, diria que a fotografia ficou mais democrática?
Muito mais, e isso é bom. Todos são fotógrafos e entendem um pouco de enquadramento. Alguns se empolgam e viram profissionais. Acho que quanto mais concorrência, melhor. Eleva o nível do trabalho profissional e valoriza a classe. Hoje, minha mãe dá palpites mais interessantes sobre minhas fotos.
Você foi lutador de boxe. Em quem daria um nocaute?
Em ninguém. O boxe me fez ser uma pessoa calma e controlada. Acho que daria um nocaute no ego das pessoas.
Quem ainda gostaria de fotografar?
O Mike Tyson.