CAROLINA FERRAZ: ATRIZ DÁ VIDA A PERSONAGEM INUSITADO E DANÇA CONFORME A MÚSICA
Carolina Ferraz, você comprou os direitos do roteiro de “A Glória e a Graça” para interpretar um travesti, e disse duvidar que alguém te convidaria para esse papel. Se sente presa de alguma forma nos papéis de mulheres ricas ou bem-sucedidas das novelas?
Eu comprei os direitos do roteiro porque me apaixonei pela história. Ao ler o roteiro tive certeza que saberia dar vida a esse personagem, esperei muito tempo para que isso se tornasse realidade, estou feliz com a estreia do filme.
Mais de 60 travestis foram entrevistados para ajudar na composição do personagem do filme. Somos um país ainda lamentavelmente muito conservador. Nesse cenário, acredita que há alguma chance de, a médio prazo, a transgeneridade ser mais aceita pela sociedade?
Acredito totalmente nisso! Na sociedade atual não há mais espaço para exclusão, temos que incluir e juntos construirmos algo melhor para todos. Acredito na liberdade de cada um para amar e se expressar como for mais natural ao indivíduo. Depois de tanta pesquisa, me senti na obrigação de criar um ser humano e não uma caricatura. Quero que os trans se identifiquem com uma pessoa de verdade.
No Receitas da Carolina, programa do GNT, sua culinária não é excludente, você cozinha de tudo um pouco. O que acha dessa patrulha da alimentação saudável?
Acredito que somos o que comemos, mas não sigo uma dieta radical em nada e meu programa reflete isso. Gosto de matéria-prima fresca e saudável. Se fosse escolher, diria que sigo a dieta mediterrânea.
“Já cheguei naquele momento da vida em que sei que sempre tem alguém mais inteligente, mais bonito, que cozinhe melhor.”
Você já disse que só cozinha com música. Qual a trilha sonora nesses momentos?
Escuto qualquer coisa, de preferência um som animado!
Que prato ninguém cozinha melhor do que você?
Difícil… Não sei mesmo. Já cheguei naquele momento da vida em que sei que sempre tem alguém mais inteligente, mais bonito, que cozinhe melhor… Enfim, só posso garantir que coloco muito amor na minha comida.
Como dona de casa, o que você não delega aos outros?
Consigo delegar tudo. Sem culpa.
Com a maturidade chegou à conclusão de que mais é menos? Praticar o desapego é difícil para você?
Acho importante, principalmente para doar coisas para quem precisa. A começar por doar dinheiro mesmo. Não temos essa cultura no Brasil, mas se cada um de nós ajudasse de alguma forma apenas as pessoas que estão à nossa volta já seria possível transformar muita coisa.
“Cada um tem seus momentos, e a vida é difícil para todo mundo.”
Se de fato aprendemos com nossos erros, o que você, se pudesse, não faria de novo?
Acho que o que mais aprendi com meus erros foi ter complacência com o próximo. Cada um tem seus momentos, e a vida é difícil para todo mundo.
Com a perda da ingenuidade e quando saímos da adolescência para a vida adulta, questionamentos como vida e morte são muito frequentes. A nossa finitude, na forma que somos, é algo que te angustia?
Meu Deus, que coisa maluca! Não me angustia nem um pouco. Veja, eu acabei de ter uma filha aos 45 do segundo tempo e mudei totalmente minha vida. Para mim o fim é hoje, todo dia. É muito importante esquecer isso, e tocar para frente a vida com muita energia.
O assédio tira você do sério? Ou mesmo entre família ou amigos, em que momentos você dá uma de Greta Garbo e diz “I want to be alone”?
Nunca me tirou do sério. As pessoas são muito carinhosas comigo, só posso agradecer. Gosto de estar sozinha na cozinha… Ali eu me acho entre minhas panelas e temperos.